História


Festividades realizadas na Igreja do Rosário no ano de 1945.
Por volta do ano de 1.870, em pleno regime escravagista, foi erigida uma pequena capela, para que em seu interior, fossem celebrados os santos ofícios do cristianismo local, para todos os escravos ou libertos da raça negra, que morassem nesta localidade.

A pequena e tosca capela foi construída no Bairro do Novo Mundo, hoje denominado por Fortaleza, posteriormente, à capela do Espírito Santo dos Barretos, surgiu, com o intento de atender ao exercício da fé cristã, dos escravos ou negros libertos, moradores em Barretos, impedidos de frequentar a Capela Mor, por puro e simples preconceito racial. A esta nova pequena capela, foi dado o nome da padroeira dos escravos: "Nossa Senhora do Rosário".

No decorrer dos anos, com o consequente progresso do lugarejo, e libertação dos escravos, a capela passou a ser frequentada não somente pelos negros, mas também, por alguns brancos que depositavam em Nossa Senhora do Rosário, a sua fé, numa nítida demonstração, de que a fé supera todos os obstáculos.
Afirmam alguns historiadores, que neste local, onde foi erigida a pequena capelinha, havia apenas um cruzeiro, erguido em homenagem a Nossa Senhora do Rosário, mas não existem registros que atestem tal fato.

Com a vinda da ferrovia no ano de 1.909, a capela foi demolida, dando lugar à construção da Estação da Ferrovia Paulista de Estradas de Ferro.

Vitorina O. Silvares
doadora do terreno
para a construção
da Igreja do Rosário
Um novo terreno, também situado no Bairro do Novo Mundo, foi doado, para que fosse efetuada a construção de uma nova capela. Por provisão datada de 4 de maio de 1.909, e assinada por D. José Marcondes Homen de Melo, tomou posse da mesma, em 6 de junho, o Padre Ramiro de Campos Meireles, e em 1º. de agosto, do mesmo ano, foi dada a bênção à nova capela de Nossa Senhora do Rosário, pelo novo vigário.

O Altar-Mor da capela, uma verdadeira obra de arte, foi entalhado por volta de 1.910, pelas hábeis mãos, do imigrante italiano, natural de Belvedere Marítimo, Francisco Scannavino, membro de tradicional família barretense. Em seu frontispício, o altar apresenta, esculpido em alto relevo, o rosário de Nossa Senhora. Esta obra de arte, hoje faz parte do acervo do Museu "Ruy Menezes", como uma de suas principais relíquias.

No período compreendido, entre 1.910 e 1.940, em prol da capela, foram realizadas varias  celebrações religiosas, acompanhadas por quermesses e leilões, que realizados em suas imediações, tornaram-se famosos, atraindo moradores de toda a cidade. Ao alvorecer, o repicar dos sinos, e os fogos de artifício colorindo o céu, com estrelas multicores, avisavam à população, que nova festa se anunciava.

A salva de 21 tiros, e a banda de música, completavam o glorioso espetáculo. Ao cair da tarde, partia da igrejinha, em procissão, uma legião de anjos, virgens e fiéis, que percorrendo as ruas da cidade, conduziam os andores, contendo as imagens, de São Benedito e de Nossa Senhora do Rosário. Mesmo com o grande movimento, o dinheiro arrecadado, não era insuficiente para se erguer o novo templo.

Por volta do ano de 1.926, o local onde estava instalada a capela, servia como caminho, ao gado destinado ao Frigorífico Anglo. Neste período conturbado de nossa história, marcado por brigas, tiroteios e mortes, o imenso cruzeiro em aroeira, assentado defronte à capela, estendia seus braços, em proteção àquele santo lugar, cercado por pequenas chácaras e casas do Baixo Meretrício, situadas nas imediações das avenidas 1, 3 e 5, e ruas 22 e 24.

Por ato de extrema bondade, por parte de Dona Victorina Ozória Silvares, esposa de Francisco de Almeida Silvares, primeiro tabelião de Barretos, em 14 de março de 1.927, foi lavrada em cartório, a doação à igreja, do terreno onde já achava construída a capela em homenagem à padroeira dos escravos.
No ano de 1.933, foi nomeado como vigário da Paróquia do Divino Espírito Santo, o Padre Vicente Francisco de Jesus, que foi o grande responsável pelo desmembramento da "Freguesia", ficando a partir de então, criadas as Paróquias de São Sebastião do Ibitú em 5 de dezembro, e a de Nossa Senhora do Rosário, em 20 de dezembro do ano de 1.935.

O primeiro batizado realizado na Paróquia do Rosário, data de 25 de outubro de 1.936, e o primeiro casamento celebrado, deu-se em 15 de junho de 1.937, ambos assentamentos, registrados e assinados, pelo pró-vigário Henrique Ramos, que assumiu a Paróquia, em 7 de outubro de 1.936.

Não comportando o número de fiéis, um novo, e maior templo se fazia necessário, foi então, que o Pe. Henrique, auxiliado pelos seus fiéis paroquianos, adquiriu mais dois terrenos contíguos, sendo as respectivas escrituras, lavradas, uma em 17 de julho, e a outra, em 6 de novembro de 1.940.

O Pe. Henrique Ramos, permaneceu conduzindo o rebanho da paróquia do Rosário, até 10 de janeiro de 1.943, sendo substituído pelo 2º. Vigário, Pe. Bianor Aranha, que assumiu suas funções, em 20 de janeiro de 1.943, permanecendo até 13 de janeiro de 1.946, quando assumiu em 01 de abril do mesmo ano, o Pe. Félix Gonzales.

Com grande solenidade, e na presença de várias autoridades, civis e eclesiásticas, e grande número de fiéis, em 8 de dezembro de 1.946, sob o comando do Pe. Félix Gonzales, realizou-se a cerimônia de lançamento da pedra fundamental da nova Igreja.

Permanecendo na paróquia até 2 de março de 1.947, o Pe. Félix, cedeu lugar ao Pe. Alfredo Lemos, que assumindo em 3 de março, exerceu a função, somente pelo prazo de cinco meses. Em 31 de dezembro de 1.947, o Pe. Aurélio Arbelôa, assumiu a função de pároco, dedicando-se totalmente à missão de trabalhar e dar vida às procissões e às famosas "Quermesses da Fortaleza". Permanecendo nesta função até o ano de 1.950, infelizmente, não conseguiu angariar fundos para que a construção saísse dos alicerces.

Com a vinda dos Padres Estigmatinos, em 31 de março de 1.950, estes foram capitaneados pelo Pe. Paulo Campos Dall 'Orto, que assumiu a paróquia do Rosário, em 24 de junho do mesmo ano, nela permanecendo até 6 de março de 1.952.

Em 28 de março de 1.952, o Pe. Primo Scussolino assumiu a paróquia, sendo realizada em 13 de abril de 1.952, uma missa em ação de graças por sua posse. Movido pela fé inabalável de seu apostolado, pelo dinamismo e liderança que lhe eram peculiares, passou a promover as famosas quermesses, contando com a colaboração das colônias de imigrantes, portugueses, japoneses e italianos, sendo que cada festa realizada, superava a do ano anterior. Neste mesmo ano, o Pe. Primo, promoveu o ingresso dos "Congregados Marianos".

Objetivando a construção do novo templo, o Pe. Primo Scussolino, trabalhou arduamente, angariando fundos, fazendo campanhas, motivo pelo qual, foi agraciado com um Jeep, para que pudesse percorrer com maior rapidez, os trajetos em rumo à solidariedade. O árduo trabalho do Pe. Primo frutificou, dando origem ao grandioso templo da Fortaleza, e graças a sua localização geográfica, é visto, e admirado por quase toda cidade.

Em 25 de março de 1.956, foram ingressados na paróquia, a "Legião de Maria", a "Corte de São José", o "Apostolado da Oração", a "Irmandade do Rosário" e a "Cruzadinha", composta só por meninas. a Congregação dos Estigmatinos assumindo o comando da Igreja de Nossa Senhora Aparecida, em Brasília, solicita que o Pe. Primo assuma o seu comando, e infelizmente desta forma, ele deixa nossa cidade, passando a residir na capital do país, local de sua morte e sepultamento. Pela dedicação deste sacerdote à comunidade, numa singela homenagem, seu nome foi dado à praça, que orna a majestosa edificação sacra.

Com a missão de conduzir os fiéis, estiveram à frente da paróquia, os padres Leopoldo e Osório, nela permanecendo por um curto período. Em 20 de março de 1.960, assumiu o Pe. Diocesano de Jaboticabal, o barretense, Archimedes Gai, que foi empossado como pároco, abrangendo a paróquia neste período, as Capelas de São Luís, a de Nossa Senhora do Sagrado Coração, na Fazenda Buracão, e a de São Sebastião, localizada na Fazenda Cachoeirinha.

Dotado de vasta cultura, o Pe. Gai, conduziu de forma carismática suas homilias, conquistando e cativando, centenas de fiéis em seus 24 anos de dedicação à comunidade do Rosário, agraciando a igreja, com onze padres, várias religiosas, introduzindo os "Vicentinos" e os "Vicentinos Jovens", para que auxiliassem aos mais necessitados. No campo material, renovou a iluminação da igreja, dotou-a de ventiladores, substituiu o antigo altar de madeira, pelo moderno altar em mármore, posteriormente, do Concílio, virou o altar para o povo, além de substituir por mármore, o piso do presbitério.

Em 1.973, comandou a total pintura da igreja pelo pintor espanhol, Francisco Peres, que de forma artística, evidenciou os Quinze Mistérios. Na parede da frente, os Mistérios Gozosos, têm no centro, o nascimento de Jesus, na do fundo, os Dolorosos, têm no centro do presbitério, a crucificação, e os personagens que a circundam, representam a humanidade, em suas mais variadas disposições para com o Cristo, numa demonstração da: Devoção, da Indiferença, da Curiosidade, e da Adversão. No forro, evidenciam-se os Mistérios Gloriosos e os símbolos dos Evangelistas. Nas laterais, as Quatorze Estações da Via Sacra. No Batistério, a imagem de São João Batista batizando Jesus, se faz presente. No Coro, figura a imagem de Santa Cecília tocando harpa.

Durante a administração do Monsenhor Archimedes Gai, a comunidade foi dotada de uma nova Casa Paroquial e de um amplo Centro Pastoral. Por ordem do Bispo de Barretos, Dom Antonio Maria Mucciolo, o Monsenhor, deixou a paróquia do Rosário, em 30 de junho de 1.984, assumindo o Seminário Diocesano na Cidade de Maria. Em 1º. de julho de 1.984, assumiu a paróquia, os padres de "Jesus Sacerdote", Pe. André Batolameotti, Pe. Carlos Bozza e Pe. Mário Revolti. No dia da posse, assumiram os padres Carlos e Mário, pois encontrando-se gravemente enfermo, o Pe. André, só pode ser empossado, em 17 de dezembro de 1.984.

Durante a gestão dos Padres "Jesus Sacerdote", ficou como vigário o Pe. André; como responsável pela Catequese da Paróquia, o Pe. Carlos, e como responsável pelas Fazendas, o Pe. Mário. Os padres, Italianos de nascimento, renovaram a aparelhagem de som da igreja, substituíram o telhado e melhoraram a iluminação. Em 9 de janeiro de 1.994, contrataram os artistas plásticos, Cesário Ceperó, Pedro Perozzi e Lourival Betelli, que ficaram responsáveis pela restauração da pintura, e acréscimo da paisagem nas figuras já existentes. A pia batismal foi colocada à esquerda do altar central, e o local, onde estava localizado o Batistério, hoje abriga um pequeno confessionário. A obra foi concluída, e entregue à comunidade, em 7 de junho de 1.994.

Agradecimento Especial: à Deise Maria Cavenaghi, Secretária da Paróquia de Nossa  Senhora do Rosário.

Bibliografia: "Álbum do Centenário de Barretos" - José Tedesco e Ruy Menezes; "Barretos de Outrora" - Osório Rocha;  Registros da Igreja Nossa Senhora do Rosário.

Imagens: Acervo Particular, Igreja Nossa Senhora do Rosário e digitalizadas do Álbum do Centenário de Barretos e Jornal "Barretos Memórias" de Wilson Franco de Britto.



8 comentários:

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  3. Li com gosto essa pequena e preciosa resenha a história de nossa Paróquia do Rosário. Eu fui coroinha do Pe. Primo: no início acompanhava-o à capela do "Frigorífico", levado por meu pai de charrete, depois de biriba e mais tarde, na garupa de sua célebre motocicleta que bem conheci. Pe. Primo era realmente um sacerdote zeloso, apostólico, empreendedor... sua piedade e dinamismo foram um dos motivos de minha vocação sacerdotal. E posso ser contato também entre aqueles tantos sacerdotes que surgiram da Comunidade do Rosário sob a sábia e prudente condução do Padre Archimedes Gay.

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  4. Um dúvida: Sempre ouvi dizer que a planta ou projeto arquitetônico da atual Igreja do Rosário seria da autoria do próprio Pe. Primo Scussolino... mas o texto acima sugere que o projeto é bem mais antigo, talvez de 1946... O que eu testemunhei como menino de 10-12 anos é que o próprio Pe. Primo acompanhou a construção do atual templo, subindo e descendo andaimes, dando ordens.. pelo menos como "mestre de obras". Há informações precisas para isso?

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  5. Um dúvida: Sempre ouvi dizer que a planta ou projeto arquitetônico da atual Igreja do Rosário seria da autoria do próprio Pe. Primo Scussolino... mas o texto acima sugere que o projeto é bem mais antigo, talvez de 1946... O que eu testemunhei como menino de 10-12 anos é que o próprio Pe. Primo acompanhou a construção do atual templo, subindo e descendo andaimes, dando ordens.. pelo menos como "mestre de obras". Há informações precisas para isso?

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